terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Dia 6



Nesse “para-cá-para-lá” de exames e aventuras. Fiz um dos exames do pacote exigido. Aquele Mielograma que furam o teu osso e tiram o... Vejamos... ”Tutano”. Das coisas que as pessoas não me contam, essa foi uma das que eu agradeci não saber. Dolorido e desagradável, graças a Deus, foi apenas para acumulo de informações corporais. Ainda bem que eu trabalho com prioridades nesses momentos. Ganhei um pirulito muito legal de coração. Estes mesmo, deliciosos e confortadores.
Mas o mais importante do dia não foi o exame em si. Enquanto esperava para fazer a coleta de material, fui tomar um lanche com o papai. E lá na lanchonete eu vi duas menininhas  com os pais. Elas não deveriam ter mais que sete anos. Digo... A mais velha. Eram duas criancinhas, animadas e saltitantes. Claro que, pela aparência, o tratamento delas já havia iniciado fazia algum tempo e estavam se recuperando bem! E elas estavam carecas.  Claro que eu já vi dezenas de crianças, adultos, idosos, desenhos de princesas estilizadas... Mas dessa vez eu vi ao vivo.
As duas meninas estavam lá, animadas e comendo. Fiquei feliz em ver. E ao mesmo tempo um pouco em choque. Não sei o quanto eu estou preparada pra enfrentar isso. Eu sei que cabelo é só cabelo. Eu sei que já cortei bem curtinho e que não tive problemas com isso. Mas agora a situação é diferente. A gente nunca pensa do outro lado, né? Do outro lado do espelho. E ver a menina com o cabelo bem ralinho na cabeça e a outra com a cabeça raspadinha me deu um aperto no coração.
Eu tenho medos, claro que tenho. Tenho horror a dores no estomago, tenho medo de vomitar. Fico apavorada se aparece uma coceirinha em mim. Qualquer coisa que seja fora do meu conhecimento me deixa um pouco com medo. Não sei se o meu cabelo vai cair, ou não. Como é se sentir assim. E esse “assim” que eu não sei bem o que é. Hoje eu sinto um pouco falta da minha total independência. E os músculos começam a reclamar com atividades comuns. São coisas desse tipo que me colocam do outro lado da moeda nessa hora.
Ver as duas princesinhas hoje me mostrou que eu ainda não tinha tido o contato com a realidade. Mesmo já planejando conhecer centros oncológicos pela cidade e tudo mais. Queria ter tido um pouco mais de coragem e falado com uma delas. Eu sei que não seria um papo cabeça para as 10h da matina de terça-feira. Mas eu me sentiria bem, talvez. Travei por encarar a primeira vez essa situação. O que me deixa feliz? Ver que tudo passa e que as duas mocinhas estavam todas serelepes com seus chapeuzinhos bonitinhos indo embora pra casa com seus pais. E sinceramente, sabem lidar com qualquer situação melhor que muita gente grande como eu. Talvez eu nem tenha precisado falar com elas, mas apenas ver que as coisas não são tão complicadas quanto imaginamos. Ainda me choca a ideia de perder os meus cabelos por um tempo, ou ficar restrita de algumas coisas dia sim, dia não. Mas nada me impressiona tanto quanto a força que uma criança tem. O desprendimento, a coragem de encarar.
E agora, com quase um mês de tudo isso. As coisas parecem andar bem rápido. E tenho encontrado pessoas muito boas no meu caminho. Até pessoas que eu nem imaginaria que um dia poderiam me ajudar. E as coisas correm bem.

Um comentário:

  1. A Cacá fez dois mielogramas. Ela dizia que o nome era bonitinho, tinha medo de endoscopia! Endoscopia deveria ser um exame horroroso pela sonoridade...
    Mas a gente se surpreende com as coisas, né!
    As crianças alegres, que te assustaram... É assim! Não espere, não se planeje tanto. Enfrente, confie e conte com quem está do seu lado.
    E eu estou, nunca esqueça!

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