sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dia 2





Gêmea e a Roberta: sendo visitas!
As coisas vão acontecendo de forma boa quando a gente se sente bem. Hoje foi o segundo dia de exames preparatórios. Claro que tem um estresse ou outro no meio do caminho. Logico que o laboratório do plano de saúde deu uma empacada. Mas nada que tenha tirado o ânimo. Fiquei conversando e fazendo piadas sobre a situação com amigos meus. Papai me animando no hospital e eu sonhando com um café da manhã divino. Fiquei horas criando expectativas sobre o tal contraste a ser tomado. No final das contas não era nada que eu imaginava. Uma grande pena! Na minha imaginação ele era meio rosado, vinha num tubo de ensaio e ainda saia fumacinha. Mas no final das contas, era só alguma coisa com aparência, cheiro e gosto de água velha.
Passar o dia com enjoo parece que faz parte desse exame. Tirando esse detalhe, nada foi de tão ruim assim. Até o anestesista, um senhor gordinho e simpático, foi maravilho. Acho que ele sentiu uma afinidade quando eu comecei a falar de comida antes do procedimento e veio ser legal comigo. Mas como tudo mundo bem sabe... Fazer exame não é nada agradável. Então essa parte passou. E o dia foi bem agradável. É bem agradável aquando os seus amigos vem passar uma tarde com você!
Marcelo fazendo o careca e a Gêmea (de novo, claro!)
A Roberta e o Marcelo são da faculdade e a gente tem uma afinidade bem legal: filmes! Então, é claro, pela lógica, ficamos a tarde toda vendo e falando de filmes. E ainda tinha a Nathália (a gêmea), mas ela já é de casa então eu nem fico mencionando visita pra poupar tempo. Gosto de gente que me diverte e me aceita assim. Tirando que eu nem posso ficar saracutiando muito tempo em pé, ou me movimentando pela casa. Gosto de ser tratada normalmente. Essas coisas me deixam mais pra cima. E foi assim que eu passei o dia hoje. Mesmo sabendo que o meu contrato na agencia acabou e eu sou a mais nova “desestagiária” da cidade.
Obrigada pela piada matinal, Ventura!
Para fechar o meu dia com chave de ouro. Além de ter recebido  a Dindinha, o Tio Miguél com Tia Cristina junto com sua querida patota. Ainda pude pegar o resultado do exame antes do previsto. Eu falei disso no começo de tudo, lá no topo! O que quer dizer que logo em breve as coisas já vão começar! Todos os dias eu tenho me sentido mais animada com os acontecimentos. Claro que tem dias que eu fico mais quieta, tem outros que eu queria um monte de gente em casa. Mas é assim mesmo! O importante é conseguir manter o foto em tudo. E, por acaso, até a empregada nova já parece mais legal que antes. Uma hora a gente se acerta pela casa.








P.S.: Eu to pronta pra dormir aqui no quarto. E a mamãe tá do meu lado já toda empacotada. E, mesmo depois de 23 anos, uma das coisas que eu mais gosto é poder dormir do lado dela. E queria poder dizer e fazê-la sentir que mesmo eu não falando todas as horas do dia que eu não sei o que seria da minha vida sem ela por perto de mim.

Sentindo.



A gente se diverte assim.

Uma das coisas mais divertidas que eu descobri nesses tempos foi a possibilidade de rir de coisas sem graça. Achar uma forma de rir de alguma coisa completamente sem graça. Por exemplo? Hoje! Ficar nesse destempero de esperar me deixa fora de prumo. E é nessas horas que eu descubro alguma coisa bem legal pra fazer. Converso com alguém, conto uma piada, reclamo do almoço da empregada nova. Ou fico mandando mensagens aleatórias pros meus primos rirem comigo. Ainda bem que tem gente que me atura!
Ter com quem compartilhar momentos desse tipo é uma coisa maravilhosa mesmo nessa vida. E nessa altura do campeonato uma das coisas que mais me anima não é estar exatamente animada. Claro que isso melhora consideravelmente a situação. Mas o que mais me anima é poder deixar alguém feliz. Fazer uma pessoa que está ao meu lado rir. De mim, comigo, por mim. Transmitir uma felicidade de verdade pra alguém. Compartilhar e, por fim, conseguir trocar energias boas com todo mundo.
Claro que em algum momento eu prestei atenção em que alguma coisa estava pra acontecer na minha vida marota. E que tinha uma lição muito maior pra tirar disso tudo. Com certeza não vai ser na cozinha, muito menos em como organizar uma casa para receber visitas a qualquer hora. Não vou escrever nenhum guia prático pra ninguém até o final destes seis meses. Mas acho que a lição, ou lições que a gente vai aprendendo são gradativas e pontuais. São mais profundas que qualquer coisa palpável. Dá pra entender? É um sentimento bom. Como o que eu senti hoje, vendo que, no momento que eu precisei, lá estava alguém pra me ajudar. Sempre! O mais importante nós rimos. E um momento que podia ser de tristeza, virou uma piada. As pessoas rindo e tudo mais.
Nessas horas dá vontade de sair fazendo alguma coisa legal por todo mundo que você gosta. Colocando um sorriso no rosto de cada um. Ou melhor! No coração de cada pessoa. Mais profundo que a imagem. Acho que são por esses momentos que a vida anda solta por ai. E a gente tem que agarrar e aproveitar sempre. Torna-los cada dia mais presente. E nessa constante vamos aprendendo a viver. Tornar alguém feliz e fazer uma pessoa rir. Dar uma pontinha de esperança pra um dia mais ou menos tem me tornado bem mais feliz. Os próximos passos eu vou tentando devagar. Talvez eu consiga superar a empregada nova e os problemas dela na cozinha. Por enquanto eu vou me divertir reclamando que a comida da Dindinha é melhor que a da empregada nova e tudo mais.
Acho que é uma das melhores sensações desses tempos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Dia 1





True Blood: A enfermeira ficou com vergonha de sair na foto.
 Hoje, no primeiro dia de exames preparatórios – resolvi apelidar assim – para os ciclos da quimioterapia, as coisas começaram a se organizar. Exame por exame. Dia após dia. E hoje eu até dei uma voltinha no supermercado. A alimentação está de volta a (quase) normalidade e por ai vai. A rotina aqui em casa não é tão tranquila por um bom tempo. Mas como eu gosto de casa movimentada... Estou adorando tudo isso.
Resolvi dizer que hoje, dia 29 de novembro, é o “Dia 1”. Quando a largada foi dada para o começo do meu tratamento. Os primeiros exames começaram e a corrida também. Tenho tentado me divertir na medida do possível com todas as situações que acontecem no dia. Até a empregada nova vai ser alguma coisa assim. Vou fazer mais piadas quando tiver perto da hora do almoço. Não é fácil viver sem a Dona Roberta aqui neste apartamento!
Sem mais perdidos... Hoje começaram os exames, como eu falei desde o começo desse texto. A ansiedade tá me consumindo dos pés a cabeça 24h por dia. Não é nada agradável ter que ficar sem comer de noite e acordar cedo pra ir ao laboratório ser furada, tomografada, examinada e depois mandada embora pra casa. Ainda bem que o cafezinho do laboratório é bem gostoso, o bolinho do que eu fui hoje estava sensacional. O que pode ter sido só por conta da fome... Então, releva-se o exagero. Tirei fotos, acho que dá pra ficar se divertindo com a tecnologia a nosso favor. Fotos são legais. Vou tirar mais fotos dos meus dias. Eles merecem ser legais. Ah! Inclusive, vou tirar fotos com e das visitas. Elas são muitos legais mesmo! Acho que vai ser muito bom lembrar de todo mundo que veio aqui comigo e me deu um carinho e tudo mais.
Boa lembrança! Fotos! Tenho que me lembrar de agradecer o Felipe por pedir isso a mim. Vou até começar a andar mais arrumadinha. Chega de pijama dia e noite! Uma pena que pra esses preparativos, as minhas unhas – alguns costumavam chamar de garras, outros, de armas brancas... – tem que ficar curtinhas por questões de saúde. Tudo bem. Eu vou saber superar essa informação difícil. Mesmo tendo ficado um pouco abalada...
Agora, no dia após dia, talvez as coisas fiquem diferentes. Não é mais uma correria pra saber o que está acontecendo. Agora a gente já sabe o que tá passando e cuidando. Paciente. Paciência. Mas nada que tire o foco. Eu fico muito animada em ter tudo isso. Em estar aprendendo tudo isso, recomeçando todas as coisas da minha vida. Cada dia é uma nova fase a ser preenchida e comemorada. E tenho pedido uma única coisa todos os dias. Peço pra ter sabedoria de saber fazer essa nova fase da minha vida florescer e se tornar um jardim. Perdoem a minha poética, sou assim mesmo.
Os cotoquinhos de unha.
O ponto mais emocionate do dia: passear no supermercado com papai.

Primeiro dia! Vamos lá!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Dr. Ana Virginia



Minha careta good vibes para quem quiser ver

Desde o dia 12 de novembro eu estou esperando o resultado de algum exame, alguma coisa que vá levar ao outro ponto. Dai para o próximo, mais um, mais e... Pronto! Acabou o tratamento e vamos começar uma vida nova. No começo do quebra-cabeça, as coisas parecem não sendo tão fáceis. Pra uma futura jornalista, bailarina e – ah, meu espaço, eu posso – escritora, como eu, as coisas não são tão fáceis. Meu CRM ainda não saiu, então entender porque a médica que me cuida não é uma oncologista e sim hematologista, ou, por que eu tenho que fazer mais quatro exames depois do laudo da biopsia? A biopsia não era o exame definitivo? Tomografia? Por que mais uma? Eu vou sair do consultório já aplicando a primeira dose da quimioterapia? Vou ficar careca ou som de Lara Fabian? Posso comer? Perguntas, perguntas... Entre tantas outras infinidades de perguntas perdidas nestes 15 dias de caminhada. Bem... A mais importante eu não sei. Só seii que ter essa primeira consulta de verdade com a Dra. Ana Virginia e dar andamento aos primeiros passos para a recuperação já me dá um alivio indescritível.
Quando eu era mais nova eu mudei tanto de colégio que criei um tipo de sentimento pessoal que, carinhosamente, chamo de “síndrome do primeiro dia da escola nova”. Ao mesmo tempo em que eu queria muito estar na escola com tudo novo. Morria de medo de entrar lá. Hoje, enquanto esperava o atendimento da Dr. Ana Virginia, sentia os mesmo medos. Precisava de pontes seguras pra entrar na sala. Queria estar no colo do papai, abraçada com a mamãe, do lado do Léo, perto de todo mundo. Só medo mesmo.
Na minha cabeça eu achava que já ia sair tomando remédio de dentro da sala do consultório e pronto. 
Bom! Deu-se a largada! Mas tudo bem, não foi assim como eu imaginava. Lógico que pela minha ignorância no assunto seria a solução mais lógica. Afinal, todo mundo já sabe o que é e por que. Então pra quê esperar pra tratar, não é mesmo? Paciência é uma arte que a gente domina. Mas, entendam... Eu quero ficar logo boa! Depois de explicar a situação toda e encaminhar todos os novos exames para – finalmente – começar o tratamento definitivo, eu botei a boca no trombone. Não sou de ferro, não mesmo! Chorar é melhor que ficar tentando ser forte nessas horas. Depois de um tempo, até fiz umas perguntas pra médica (que é sempre um amor de pessoa) e as coisas foram fluindo bem... Assim como todos os outros “primeiros dias de escola nova”.
Pelo que eu contei, numa perspectiva de dias, ao todo, uns 10 dias pra tudo começar de verdade. A minha dieta? Bem, já que os corticoides diminuíram, o risco da minha carinha de lua cheia virar uma lua maior ainda, também. Claro que eu não posso sair comendo igual a uma doida desesperada. Sal? O mínimo pra sobreviver. Conservas? Oi? O que é isso mesmo? Enfim... Uma dieta especial e gostosinha que dá pra viver tranquilo por seis meses e o resto da vida. Adeus álcool, né minha gente? Mas como isso não fazia parte do meu cardápio faz tempo, nem conto como corte ou perda. Nestas e outras a gente vai se virando como pode. A ceia de Natal não está comprometida! Então que venham as castanhas portuguesas! Em grande escala, de preferencia. Não pode comida crua, mas tem hot shushi pra fazer a felicidade. Então as coisas parecem mais fáceis quando tem comida pra gente se distrair.
E falando tudo isso assim parece bem mais fácil que eu imaginei. E é claro que eu não imaginei nada disso. Como a mamãe disse hoje, jamais imaginaria que há um mês, hoje estaria fazendo os exames preparatórios para uma quimioterapia. Mas a vida é uma caixinha de surpresas! Vamos trabalhar com um dia de cada vez, par e passo. Oito ciclos a cada quinze dias. Acho que começou, então! Coragem!

Good Vibes

Cariño

Tenho uma amiga que gosta tem um carinho enorme por palavras em espanhol. Entre todas elas a que ela mais gosta é “corazon”. Bem, o meu carinho todo vai para palavras em italiano desde que eu descobri a romântica historia da língua e mesmo tendo o plano de começar o francês esse semestre... Deixa pra lá. Voltando ao ponto principal, sobre palavras em outras línguas. Eu acho muito bonita a pronuncia e escrita de “cariño” em espanhol. É, afeto em português ao pé da letra – obrigada, tio Google. No mais, o significado é bem importante, afetuoso e aconchegante.
Hoje eu peguei essa palavra pra mim. Por uma demonstração livre de afeto. Desde que eu fiquei sabendo do Sr. Linfonigno, tive muito cuidado de como contar e pra quem contar. Quando e por onde. Uma das coisas que mais me deixa chateada em relação à doença é em algum momento fazer as pessoas se sentirem responsáveis por qualquer coisa que aconteça contigo. Ou, quem sabe, obrigadas a prestar qualquer favor para ti. Digamos, a todos que eu informo, seja apenas titulo de informação (curiosidade).
Então, um dia eu comecei a escrever alguma coisa nesse blog sobre tudo isso. Afinal, escrever é a melhor maneira que eu me encontro com os meus pensamentos o dia todo. Falando da coisa que eu mais entendo: minha própria vida. Que, por acaso, ganhou uma emoção a mais esses tempos e tem sido um pouco mais animadinha pra um público em geral. Desculpa! Sem mais piadas. Pois bem, escrevo aqui o que me fazer ter boas lembranças desses tempos diferentes.
Por acaso, algumas pessoas que eu jamais imaginei que pudessem ver isso, viram. E o mais legal? Sentiram-se tocados com a minha historia. Não me surpreendo da parte de quem foi. Até porque “good vibes” não é uma coisa que a gente costuma criar uma falsa ilusão. Ou é, ou não é. Essas coisas de energia são muito fortes. Ontem, quando o David – a pessoa em questão – veio falar comigo preocupado e com todo o carinho do mundo. Eu me senti muito bem. Primeiro que eu sou taurina e claro que gosto de ser mimada e de ter muita atenção. Mas sentir que pessoas cujo  circulo de convívio diário não fazem parte do teu. Ou que nem vem a sua casa ficar as tarde vendo filme. De alguma forma, um dia, por acaso, prestaram atenção em ti.
É bom ter essas good vibes. Essas energias passadas, de alguma forma, cheias de coisas boas das outras pessoas. Nestes 15 dias da minha historia, muita gente boa brotou, simplesmente, no caminho. Com uma palavra, lembrança e tudo mais. A gente começa a sentir uma sintonia legal com o mundo e tem uma vontade muito maluca de querer compartilhar e fazer todo mundo se sentir bem. Uma pena ainda não poder fazer isso com todos os que eu gosto.  Enquanto eu estou aqui passeando por esse período icônico da minha vida, vou anotando muitas coisas boas que tem acontecido. O que, com certeza, tá sendo o maior presente de todos.