Na ordem: A Joelma, o Léo e a Dona Fátima (mamãe) |
Eu acho que eu ainda não falei sobre os meus plantonistas
noturnos. Não é fácil ter que acordar umas três vezes de madrugada pra tomar
remédio e - por mais contraditório que seja - dormir tranquila. É uma tarefa
simples, colocar os despertadores, olhar na tabela, pegar o leite e mandar o remédio
pra dentro da goela da menina.
Bem simples e fácil se você não faz nada o dia todo e
dorme igual uma porca. Se não é a mãe, pai, qualquer coisa, assim, sem muita importância.
E a minha família é uma coisa fofa só, o que não falta é gente pra vir pra dentro
de casa dormir aqui no Cafofo da Tata.
Meu primeiro plantonista foi o Léo. Na verdade nem foi
aqui no Cafofo que ele ficou, foi lá no perrengue da Unimed mesmo. No dia D!
Passou a frente de todo mundo e ninguém nem pestanejou. “Não, eu QUERO, EU
PRECISO ficar.” Pronto, acabou. Certo, quem é Léo? Meu primo, meu irmão. Eu cresci
junto com ele que é uma mistura indistinguível de grau de parentesco. É do
mesmo sangue, tem a mesma avó, morou na mesma casa é tudo irmão. Então... Como
eu ia dizendo, o Léo é meu irmão mais velho. O macho alfa da geração.
Ele ficou lá no hospital e talvez nem saiba, mas foi uma
das primeiras pessoas a me tranquilizar – um pouco antes foi a mulher dele, a
Joelma. – sobre o que estava acontecendo
dentro do meu corpinho maravilha. Eu acho que, por conta do efeito retardado
que o remédio dá, eu não entendi direito
o que queria dizer as palavras tumor, cirurgia e quimioterapia na hora. Mas ele
foi me explicando e eu fiz cara de que estava tudo certo. Até babar e dormir
fazendo careta. Quando a isso, relatos do próprio que ficou de vigília pra
trocar o soro e ver se eu não ia sair correndo do hospital ou qualquer coisa
assim, né. Nunca se sabe.
O mais engraçado dele é que o maninho não deixa a
peteca cair. Enquanto eu precisei que ele tivesse do meu lado, segurando a
minha mão e me deixando segura... Bem, lá está o Léo firme e forte. Passou dois
dias em prol de mim. Pesquisou tudo que acontecia com um linfoma e tratamentos,
especialistas, casos, teses. Enfim. Deu um aperto no coração, quando, aqui em
casa ele finalmente, baixou a guarda, e chorou. Quase eu levanto pra dar um
abraço nele, mas, né, ainda não dava pra fazer movimentos bruscos.
Não tem tempo ruim pra com a gente. Ele chega aqui
animado, depois do jogo, cansado e vira e fala: Anda, cadê, como que a gente tá
hoje? Brilho nos olhos?
Dormindo assim, hot dog. |
Eu sei que se eu fraquejar ele vai me levantar, mas nem
penso nisso. Porque eu ia reclamar né? O destino me deu esse irmão de presente,
não tenho motivos pra ficar triste né? Vou ver se providencio um cobertor maior
pra ele, porque as ultimas noticias é que ele dormiu parecendo um cachorro
quente, sabe? Sobrando pra fora do pão?
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